sexta-feira, 30 de julho de 2010

Patrimônio Ambiental: Parque Nacional Marinho dos Abrolhos (ParNaM dos Abrolhos)

O Parque Nacional Marinho dos Abrolhos é conhecido por suas belezas naturais, lugar paradisíaco que encanta milhares de turistas todos os anos. O arquipélago é formado por cinco pequenas ilhas e o Parcel de Abrolhos. Com seus belíssimos recifes de corais torna-se um paraíso para mergulhadores, que se encantam com a sua fauna e flora marinha. Outros atrativos para os turistas é o período de acasalamento das baleias jubartes e o grande número de aves migratórias que visitam a região todos os anos. Abrolhos atrai também, pesquisadores e estudiosos, justamente por dono de Ecossistemas raros.

O nome Abrolhos, dado ao arquipélago na costa do Extremo Sul da Bahia, vem da advertência no século XVI, “Abra os olhos”, devido ao perigo dos recifes de corais que dificultava a navegação levando muitas embarcações ao naufrágio.

Além das belezas naturais o arquipélago abriga um patrimônio histórico de valor imensurável. O Farol na Ilha de Santa Bárbara é um dos exemplos, funcionando na ilha desde 08 de maio de 1861, protagonizando lendas contadas por muitos caravelenses. (RALILE, 2006).

Foi criado no ano de 1983, com o intuito de preservar o patrimônio histórico e ambiental, o Parque nacional Marinho dos Abrolhos (ParNaM dos Abrolhos), primeiro parque nacional marinho da América do Sul. (MARCACCI, 2009).

Este estudo busca a valorização da história regional e ecológica do Arquipélago de Abrolhos, seus patrimônios e relações com a cidade de Caravelas.

Partindo dos princípios da Geo-Historia e do Eco-História, será possível alcançar resultados notáveis e satisfatórios para este estudo, em um diálogo com outras disciplinas e ciências da natureza, como Geografia e a Ecologia. (Barros, 2004).

Mediante ao descaso que é atribuído aos bens patrimoniais no Brasil, e principalmente aqui na região, aonde o ponte de referência para estudos arqueológicos, patrimoniais e culturais, se encontram em Porto Seguro, entende-se, portanto, que é de suma importância evidenciar outros contextos para uma melhor abordagem e apreciação da cultura como um todo.

Os bens culturais tombados ou não devem se integrar à vida de hoje. Eles participam, com sua carga de valores históricos, artísticos e sociais, da construção do nosso futuro. Eles exigem uma abordagem renovadora, o recurso a um sentido de apropriação com vista à sua reinserção no processo contínuo de nosso desenvolvimento.

Não só a cidade de Caravelas, mas toda a região é eminente em relação a fontes históricas, seja ela patrimonial ou não, a riqueza é notável, porem a valorização ou mesmo a preocupação na manutenção e preservação desses bens inexiste.

A partir da formação dessa consciência coletiva sobre a importância de preservar os valores das tradições, da experiência histórica e da inventividade artística e o patrimônio de todo o mundo. Em conseqüência, se alargou o leque de bens culturais a serem preservados e a estimularem manifestações criativas e renovadoras da nossa evolução social. São muitas, e de diferentes origens sociais, étnicas e culturais, as influencias que se foram sedimentando ao longo de nossa formação nacional.

Nesse intuito, o projeto visa analisar a formação do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos (ParNaM dos Abrolhos), na tentativa de contribuir não só para a própria universidade e seu crescimento na pesquisa científica, mas também buscar evidenciar o patrimônio histórico, natural e cultural, para que se cultive esse costume de preservação.


REFERÊNCIAS

BARRETO, Margarita. TURISMO E LEGADO CULTURAL: As possibilidades do planejamento. Campinas, SP: Papiros, 2000.



BARROS, José D’Assunção. O Campo da História: especialidades e abordagens. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.


BLOCH, Marc Leopold Bejamin. Apologia da História ou O Ofício de Historiador. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2001.

CAMPELLO, Glauco. Resumo do texto Ações pelo Patrimônio. in http://www.minc.gov.br

CAMPELLO, Glauco. Patrimônio e Cidade, Cidade e Patrimônio. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPHAN, n°23, 1999.

CHOAY, Fraçoise. A Alegoria do Patrimônio. Trad. Luciano Vieira Machado. São Paulo: Editora UNESP, 2001.

KERSTEN, Márcia Scholz de Andrade. Os rituais do Tombamento e a escrita da História: Bens Tombados no Paraná entre 1938-1990. Curitiba: Editora da UFPR, 2000.

SÃO PAULO (CIDADE). Secretaria Municipal de Cultura. Departamento do Patrimônio Histórico. O Direito à Memória: Patrimônio Histórico e Cidadania/DPH. São Paulo: DPH, 1992.

TELLES, Augusto C. da Silva. Atlas dos monumentos históricos e artísticos do Brasil.Rio de Janeiro: FENAME/DAC,1975.

MARCACCI, F. A. Monografia Histórico do Ambientalismo em Caravelas-Bahia. 2009.

RALILE, B. P.; SOUZA, C. B. DESOUZA, S. F. DE. Relatos Históricos de Caravelas: Desde o século XVI. Fundação Professor Benedito Ralile. Caravelas: 2006.

LUDKE, Menga e Marli E. D. A. André. Pesquisa em educação: A bordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. – 4 ed.. -São Paulo: Atlas, 2002.
INDEPENDÊNCIA NA AMÉRICA COLÔNIAL.


O processo de independência das colônias na América espanhola não se deu de forma linear e homogenia. Não houve um padrão a seguir.
Para que a autonomia das colônias se consolidasse muitas revoltas ecoaram, lutas foram travadas e muito sangue foi derramado.
No final do século XVIII ao século XIX a Europa passava por profundas transformações que mexia com a sociedade européia e refletia em suas colônias. Os ecos dos ideais iluministas da Revolução Francesa de 1789 rodavam pela colônia. Sob o lema:” Liberdade, Igualdade, Fraternidade”,que acendeu idéias burguesas e derrubou valores do absolutismo.
Os burgueses das colônias estavam insatisfeitos com a metrópole, que exploravam as colônias exigindo cada vez mais, sem um retorno sólido. Com isso os colonos buscavam cortar o ”cordão umbilical” e se desvincularem de suas metrópoles. Já sob influencia do iluminismo buscavam o direito de igualdade e liberdade.
No Haiti esse processo também foi influenciado pelas novas idéias e diferente das outras colônias as revoltas iniciaram e foram comandadas por escravos, que cansado de serem maltratados se rebelaram contra seus senhores. Foi mais de uma década de conflitos para que a vitória negra se consolidasse.
Todas as colônias buscavam os mesmos direitos que a metrópole possuía, pregando a igualdade entre as pessoas.
Apesar, de em pouco tempo, o movimento conquistar inúmeros adeptos, nem todos foram á frente da revolução. Os burgueses viam com bons olhos a emancipação das colônias, mas muitos permaneceram apenas como mentores das revoltas, outros ainda não transpareciam a posição favorável á colônia, num receio do que lhes poderiam acontecer com indignação da metrópole.
Muitos líderes se levantaram dentro das revoltas, que além da burguesia podia contar com as camadas populares. Havia um sonho em comum, entre as colônias, que as mobilizavam a lutar: a liberdade.
Não havia mais espaço para subordinação. O espírito revolucionário tomava conta de toda a América espanhola. Cada colônia seja o Chile, a Argentina, o Haiti, os Estados Unidos, o México, todos tiveram dentro do seu processo de independência uma história, com características próprias.
BREVE HISTÓRICO DO PENSAMENTO AMBIENTAL MUNDIAL

Para se compreender melhor o avanço historiográfico em relação ao movimento ambientalista mundial, é preciso levar em conta as transformações ocorridas com o próprio conceito da História, no qual não caberia mais as meras narrativas e reproduções isoladas da História. Nascendo, portanto, a necessidade de uma reformulação em seus conceitos.

No inicio do século XX, com o debate entre filósofos, historiadores, sociólogos, e geógrafos corporificou-se a “revista de história, Annales d ‘Historie Economique et Sociale, fundada em 1929, por Lucien Febvre e Marc Bloch” .
A história nova surgiu em contraposição à linha positivista do século XIX. Marc Bloch e Lucien Febvre principais representantes deste movimento propunham transformações nos métodos e concepções historiográficos.

Antes de tudo, tirar a história do marasmo da rotina, em primeiro lugar de seu confinamento em barreiras estritamente disciplinares, era o que Lucien Febvre chamava, em 1932, de “derrubar as velhas paredes antiquadas, os amontoados babilônicos de preconceitos, rotinas, erros de concepção e de compreensão” .


Entre inúmeras discussões e controvérsias surge uma nova visão sobre a história, agora à luz das Ciências Sociais. O programa dos Annales tinha como proposta inicial uma interdisciplinaridade, e a partir daí surgiu uma nova concepção temporal. (REIS, 2000). O objeto de estudo da história deixa de ser





o passado propriamente dito, e o novo olhar da história tem com objeto “o homem, ou melhor, os homens, e mais precisamente os homens no tempo” .

A História influenciada pelas ciências sociais, nouvelle histoire, praticada pela Escola dos Annales, possibilitou não apenas a aproximação entre as outras ciências, mas, contudo a transformação do conceito de se fazer história.

Essa influência das ciências sociais fez com que a história rompesse com uma longa tradição e se renovasse completamente. Renova-se completamente não significa negar tudo que se fazia antes, mas submeter o que se fazia antes e um novo olhar, a novos problemas, a novos instrumentos, a novos fins.

A renovação da história e a interdisciplinaridade das ciências sociais promoveram intensas mudanças nas ciências humanas. “Muitas ciências modernizaram-se num setor particular de seu domínio, sem que por isso todo o seu campo fosse modificado” .Uma das primeiras ciências a ser renovada foi à geografia, desenvolvendo o estudo da geografia humana. Da junção ocorrida entre a história e a geografia, desde 1947, surgiu a “história geográfica”, na qual os estudiosos apontavam à importância de uma ciência para a outra, e a necessidade de um historiador pensar como um geógrafo e um geógrafo pensar como um historiador. (LE GOFF, 2005).

O estudo do meio ambiente, através de produções historiográficas munidos da geografia, contribui de forma significativa para reeducação da consciência ambiental, partindo do pressuposto que não cabe ao historiador apenas a reprodução dos fatos.

(...) o problema epistemológico da história não é apenas um problema intelectual e cientifico, mas também um problema cívico e mesmo moral. O historiador tem responsabilidades e deve “prestar contas”. Marc Bloch coloca assim o historiador entre os artesãos que devem dar provas de consciência profissional, mas, e aí está a marca de seu gênio ao pensar imediatamente na longa duração histórica, “o debate ultrapassa, em muito, os pequenos escrúpulos de uma moral corporativa (...)”.
RESENHA

Pro Dia Nascer Feliz

Janaína Gonçalves Rios


JARDIM, João. Pro Dia Nascer Feliz. Filme documentário produção TAMBELLINI Filme, SP, ano 2006.
Pro Dia Nascer Feliz é um documentário prazeroso, que consegue transmitir a realidade das escolas brasileiras e os conflitos existentes. Com muita objetividade e clareza trás questões pertinentes ao público, levando a uma reflexão mais ampla com que diz respeito à educação no Brasil. Contribui de forma significativa para a discussão quanto à relação professor - aluno, as dificuldades visíveis e muitas vezes ignoradas que os mesmos enfrentam no cotidiano escolar. Além desse conflito, o documentário aborda também, o conflito interno vivido pelo aluno, as pressões, suas decepções, sonhos, angustias e medos. Quando o documentário trata de forma coletiva e ao mesmo tempo individual as situações vividas pelos personagens, é possível notar quão melindroso é cada conflito e que esses problemas não são pela deficiência na estrutura física ou a região onde a escola se encontra, essa é uma realidade universal.
O documentário reforça a importância de se discutir os problemas enfrentados todos os dias por milhares de alunos do Brasil.
De forma plausível o objetivo do filme é alcançado com a percepção de pontos relevantes na realidade escolar do país, despertando uma criticidade nos espectadores.
Pro Dia Nascer Feliz, é recomendado não apenas à professores ou envolvidos na área pedagógica, mas a alunos, aos pais, governantes, a todos os cidadãos brasileiros, visando a importância do conteúdo abordado.
Toda a abordagem do documentário leva a uma compreensão mais exata da realidade das escolas, problemas existentes em qualquer sala de aula, e as deficiências do sistema educacional.
Apesar de ser uma discussão que já perduram décadas, o filme trás uma perspectiva inovadora, é um olhar clínico dos conflitos enfrentados por alunos e professores, numa tentativa de visualizar os próprios sentimentos, uma visão mais íntima.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

BELLE ÉPOQUE: Nostalgia parisiense na elite carioca do século XX.



Janaína Rios.



“O progresso [...] envaidecera a cidade vestida de novo, principalmente inundada de claridade, com jornais nervosos que a convenciam de ser mais bela do mundo... [...] Era a transição da cidade malsã para a maravilhosa.”
Pedro Calmon




Resumo
Este artigo busca evidenciar as mudanças ocorridas no cotidiano da elite carioca no início do século XX. Influenciado pelas revoluções ocorridas na Europa e suas novas condições de vida, o Rio de Janeiro figurava como a “cidade maravilhosa”, eram os “belos tempos brasileiros”. Luxo, glamour, exibição de poder, viabilizavam o desejo de acompanhar todos os ditames franceses. A inspiração parisiense, transformava a realidade da Metrópole brasileira, que mais parecia “um pedaço da Europa”.


Palavras-chave: Transformação / Cotidiano / Influência / Elite.






No final do século XIX, A Europa passava por intensas transformações, tendo como protagonistas a França e a Inglaterra. Desde a Revolução Industrial no século XVIII, dando inicio ao surgimento das fábricas, e um pouco mais tarde no século XIX com a Segunda Revolução Industrial, as peças do tabuleiro tomaram novas posições e o mundo tornava-se palco das mais variadas mudanças. Foi o momento de despontar novos costumes e idéias, adequadas as recentes condições de vida proposto pelo crescente capitalismo. A ideologia capitalista de modernidade e de grande consumismo espalhou-se de forma significativa por toda a Europa e paises de outros continentes.




[...] nunca em nenhum período anterior tantas pessoas foram envolvidas de modo tão completo e tão rápido num processo dramático de transformação de seus hábitos cotidianos, seus modos de percepção e ate seus reflexos instintivos.


Muitos foram os reflexos dessas transformações aqui no Brasil. No final do século XIX o país deixava o sistema escravocrata e passava pela transição da Monarquia para a República.


A França serviu de inspiração nos mais variados setores políticos e sociais brasileiro. A implantação da República foi sonhada à modelo francês, ”[...] o estandarte da liberdade [...] no meio da praça pública, ao som da Marselhesa, proclamando a soberania popular”.


Muitas foram às críticas quanto à participação popular no processo de introdução republicano, justamente por não ter ocorrido exatamente como na França. Buscava-se o mesmo roteiro “encenado” pelos franceses, não levando em conta, claro, que o cenário era outro e a realidade do Brasil não era a mesma da França, por mais que houvesse inúmeras semelhanças.


Muitos outros ideais franceses foram importados pelos brasileiros. A figura feminina representando a República foi uma das importações francesas trazidas para o país. A Monarquia, no período anterior era representada pela imagem do rei, simbolizado o seu poder e autoridade, um verdadeiro contraste com a figura da mulher, símbolo da liberdade, a alegoria republicana,



A maioria das representações femininas, à época da proclamação já tinha traços fin-de-siècle. Salientavam a sensualidade, a beleza a fragilidade da mulher. Era mulher da sociedade urbana carioca, se não parisiense tornando objeto de consumo [...].






O Rio de Janeiro, a então capital do Brasil, figurava entre as cidades que buscavam o glamour francês, la Belle Époque, Bela Época (do francês) ou belos tempos, caracterizada pelas mudanças culturais, nos costumes, no cotidiano, no vestuário, nas artes, na arquitetura e principalmente no pensamento humano.


A elite brasileira buscava o rompimento com tudo que estivesse vinculado com o passado imperial do país, numa tentativa de eliminar tudo ou até mesmo todos que trouxessem lembranças das condições de atraso, notáveis nos espaços urbanos com amontoados de casas, a superlotação dessas habitações, e o alastramento de epidemias. (MARINS. 1998)


Para se entender melhor a situação do Rio de Janeiro e o caos que a cidade enfrentava no início do século XX, é preciso ressaltar que algumas décadas antes, com a libertação dos escravos, muito desses libertos deixaram o campo e migraram para as cidades. Consequentemente surgiram inúmeras moradias não planejadas e a ocupação de antigos casarões formando os cortiços, que não ofereciam condições básicas de higiene para esses moradores.


Essa “bagunça” estrutural da cidade do Rio, possibilitava a divisão de espaço entre mansões luxuosas, casas comerciais e precários cortiços. A alta sociedade e os menos favorecidos cruzavam-se constantemente nas estreitas ruas cariocas. Situação que se tornou insuportável para elite.


Porém, não foram à piedade e o bom senso que levaram os governantes a tomarem medidas drásticas quanto a esse problema social. A imagem da cidade estava totalmente comprometida com tanto desleixo e desordem nas ruas da capital.



[...] Acusadas de atrasadas, inferiores e pestilentas, essas populações seriam perseguidas na ocupação que faziam das ruas, mas, sobretudo seriam fustigadas em suas habitações.

Na tentativa de limpar a imagem da cidade, foi instalado o “bota - abaixo”, onde os moradores indesejados foram despejados de suas moradias. Os cortiços e casarões que não serviam de “ornamento” para a cidade foram demolidos.

A destruição de casas, no Brasil, e a expulsão de seus habitantes foram mais um reflexo do que aconteceu na França, onde “milhares de unidades habitacionais foram destruídas em Paris à custa de desapropriações [...]”.


Iniciaram-se as reformas na cidade, que teve como marco a abertura da Avenida Central, atual Avenida Rio Branco, que despertou encanto na elite carioca por seu estilo, como descreve Sevcenko,



[...] Contemplado com um concurso de fachadas que a cercou de um décor arquitetônico art nouveau, em mármore e cristal, combinando com os elegantes lampiões da moderna iluminação elétrica e as luzes das vitrines das lojas de artigos finos importados.



O brilho francês tomava os ares da capital brasileira, que buscava a glória da modernidade nas reformas da cidade. Luxuosas casas seguiam o padrão europeu. Havia uma crescente preocupação, por parte da elite, em mostrar todo seu poder aquisitivo, através da arquitetura que esbanjava grande elegância. Ruas alinhadas, palacetes luxuosos, mansões que exibiam magníficos jardins. Construções que desfrutavam de belos muros, ou mesmo um gradil muito bem trabalhado.


Esbanjando elegância e comodidade, “Petrópolis permanecia como referencia de bem viver, uma pequena Europa serra acima, ornada de elaboradas moradias neoclássicas e ecléticas [...]” . Um refúgio para os mais afortunados nos fins de semana, que procuravam o deleite em clima europeu.


A ostentação de poder continuava nos espaços internos das casas da elite carioca. Grandes salões com objetos decorativos vindos da Europa, mostravam comodidade e requinte, “[...] os salões da Belle Époque caracterizavam-se como teatro de variedades cuja programação comportava a declamação de poesias, a execução de peças musicais e de canções, entremeadas de contratos, conversas e formas prestigiosas de consumo [...]” . Havia uma valorização na decoração desses interiores, com o uso papeis de parede, folhas de portas e janelas, pinturas ornamentais de forro e abusavam ainda nas tapeçarias, pomposos espelhos, cortinas e mobiliário sofisticado. (SCHAPOCHNIK, 1998).


A importância desses aparatos, a adoção de jardins, de vilas pompeanas, demonstrava a valorização pela cultura européia e de uma forma especial parisiense. Era a fantasia de viver na própria Paris.


Tal reflexo não poderia deixar de influenciar nas indumentárias da elite carioca. O exagero reinava nos trajes femininos, com abuso no volume, nas pérolas, penas, babados, vestidos talhado ao denier cri, jupe-culotte (saia calção). Contando ainda como acessórios “estavam sombrinha, bolsa e chapéu [...] taillers, os soutiens-goge e os dessous bordados e rendados que proporcionavam uma nova silhueta ao corpo feminino” . O espartilho, exageradamente apertado, dava o toque elegante à vestimenta. Rapazes, também, exibiam finos trajes de cortes ingleses.


Todos de forma impecável, desfilavam com seus trajes franceses, e “ao se cruzarem no grande bulevar não se cumprimentavam mais à brasileira, mas repetiam uns aos outros: ‘Vive la France! ’”.


A França não era apenas a capital da moda, influenciava também, nas artes plásticas e obras literárias, “em plena Belle Époque, os nossos escritores eram costumeiros importadores culturais da França” . Buscavam inspiração à moda francesa.


Mesmo com todos os conflitos existentes no Brasil, e muitos desses gerados pelo próprio desejo de progresso, esse foi um período marcado pelas transformações no cotidiano da elite carioca, que almejava desfrutar os benefícios da glória que envolvia os paises europeus.


Para a elite carioca viver à sombra da grande Metrópole mundial, trazia o tão sonhado glamour francês, a realização de se viver em uma cidade “civilizada”.

A modernização dava ao Rio de Janeiro uma nova imagem, com requinte e bom gosto. O bem estar da elite, a Paris brasileira, a “cidade maravilhosa”


A Belle Époque brasileira caracterizou-se pelo luxo e ostentação demonstrada pela classe alta, momento que evidenciou a beleza das primeiras décadas do século XX. A cidade das luzes refletiu, de forma significativa, sobre as elites brasileiras, tornando-se o objeto de consumo, desejada e amada, a veneração da alta sociedade carioca.


REFERÊCIAS.


CARVALHO, José Murilo. A Formação das Almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

CARVALHO, José Murilo. Os Bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

MARINS, Paulo César Garcez. Habitação e vizinhança: limites da privacidade no surgimento das metrópoles brasileiras. In História da Vida Privada. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

SCHAPOCHNIK, Nelson. Cartões-postais, álbuns de família e ícones da intimidade. In História da Vida Privada. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

SEVCENKO, Nicolau. O prelúdio republicano, astúcias da ordem e ilusões do progresso. In História da Vida Privada. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

VEIGA, Cláudio. Um brasilianista francês: Philéas Lebesgue. Rio de Janeiro: Topbooks: Salvador, BA: Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1998.